segunda-feira, setembro 22, 2014

A CEIA




A CEIA





Estavam à mesa comendo e bebendo, mas somente um sabia que nunca mais isso haveria de se repetir.
Estava no meio dos que o amavam, mas apenas um amava mais ao dinheiro. Vendendo barato o que não tinha preço.
Em silêncio olhava para cada um deles, os da direita e os da esquerda, e amava a cada um, Conhecia-os o íntimo, sabia a fraqueza de cada um, seus receios e suas habilidades e o que estava em cada coração.
Era um homem que tinha vindo de longe, poucos o conheciam intimamente, de alguns fizera amigos, e caminhavam juntos havia já três anos, tentava ensinar-lhes tudo que podia. Muitos outros agora O seguiam, mas Ele sabia que era só por interesse, uma multidão carente e perdida, talvez alguns deles ainda conseguissem um dia perceber quem Ele era na realidade.
Era um povo faminto de alimento, de palavras, de ensinamentos. Ele tinha muita pena daquela multidão! Aquela mesma multidão que Ele um dia alimentara , com pães, peixes e palavras, aquela mesma multidão que Ele muitas vezes curou, era a mesma multidão que pediria o seu fim.
Ingratos?? Não. Coitados!! Não sabem o que fazem...
Mas nesse momento, apenas os amigos, os íntimos.Então silenciosamente encheu doze taças, e deu de beber teu próprio sangue. O sangue de um sacrifício ainda por cumprir,
enquanto contemplava a felicidade breve dos que o cercavam.
Como o pastor debruçado sobre o seu rebanho ao pressentir a aproximação da tempestade, uma sombra atravessava seu olhar, e angustiava seu coração.
Um manto branco cobria sua cabeça, apesar de ser rei, nada
reclamava para si, bastava-lhe saber que era escutado, e que teus ensinamentos estavam caindo em solo fértil e floresceria.
Ocupava o centro da mesa. De pé, com os braços estendidos para a frente, lentamente repartiu o pão, como quem despedaça o próprio corpo, como quem vira a última página de um livro que nunca mais voltará a ser fechado...


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