sexta-feira, janeiro 29, 2016

SER MÃE É PADECER ENTRE CONTRADIÇÕES



Às vezes olho para eles e penso como seria a minha vida se não tivessem nascido, se eu nunca tivesse sido mãe...

Lembro-me de quando eu tinha  saudades de ter tempo para mim, para dormir o quanto quisesse, e quando quisesse sair era só me arrumar e ir apenas.

Claro, depois sentia remorsos de pensar naquilo, como se estivesse negando os meus filhos, como se não fosse natural ou normal. Sentia-me mal por ser humana, com hábitos de saudosismo.

Descobri muito rapidamente que ser mãe é padecer entre contradições: Descobri coisas absurdas, idiotas e ainda mais absurdas como sentir que eles cresciam e por não guardar tudo em filme ou foto parecia que perderia parte da vidinha deles, como se cada sorriso ou cada olhar não ficasse gravado em minha mente.


E nos dias  em que faltava-me paciência então me tornava uma péssima mãe, ou quando precisava dar-lhe uns tapinhas no traseiro e depois sentia-me logo uma bruxa má porque eles eram tão pequeninos que nem tinham bumbum para uma palmada. Ou quando brigava e chamava atenção e eles não percebiam nada e abriam um sorriso pra mim...

Às vezes sentia-me tão desesperada  vendo a minha vida passar enquanto cuidava de fraudas e mamadeiras e parecia que perdia tudo o que acontecia lá fora... e as amigas que iam com os namorados ao cinema e às festas. A vida era feita de consultas aos pediatras, entre as vacinas e choros de madrugada! E amanhecer o dia em claro porque eles choraram a noite toda e  mesmo assim ter que encarar um dia inteiro de trabalho... E ainda assim ficar louca pra voltar pra casa ao final do dia só pra tê-los nos braços novamente, e acordar de noite pra ver se estavam respirando, e só assim conseguir dormir.

Ansiava em ter momentos só pra cuidar de mim, longe deles mas quando estava, não parava de pensar se estavam bem ou se sentiriam a minha falta, e 
lamentava os sorrisos que davam sem que eu visse!!  Eu tinha ciúmes de quem quer que seja que se aproximasse deles e se eles sorrissem então...Aquele sorriso era meu e só meu. 

Era uma luta contra mim mesma todos os dias porque eles precisavam crescer e voar para além dos meus braços.... E hoje me sinto orgulhosa ao vê-los tão grandes, espertos e independentes... Embora tenha saudade de quando dependiam pra tudo!!

Às vezes penso: será que todas as mães são assim loucas e obcecadas?

Eu sei que não estou só nestes sentimentos, que qualquer Mãe sente isto tudo e isso não me faz sentir melhor...pelo contrário, não gosto de me ver nas palavras de outras mães quando conto algo e me dizem “ah, o meu filho também faz assim ... Amo quando dizem “uau, os teus filhos são uns amores e você já não tem mais criança...

Contradições de uma mãe...

                                                                                    NARA CARVALHO

sexta-feira, janeiro 08, 2016

Reticências (...)

   

(…)

São três pontos apenas
Tem um quê de timidez
Ou talvez de ousadia...
De um sentimento inacabado
Frases sem fim, sem ponto final...

Sabem manter o assunto em aberto
Como um final incerto
Simbolizam um mundo
Um poço sem fundo
Mas nunca um fim, algo acabado
Algo que nunca mais foi falado...

As reticências são assim
São armas de sedução
Que não diz: insinua
Não mostra: provoca
A vontade seminua
Guardada, amordaçada e latente...
E mantêm-se as aparências


Reticências (...)

(Nara Carvalho)